TU
por Tulipa Ruiz

TU, com letra maiúscula. Em capslock para acentuar a grafia da palavra e assim mergulhar em seu significado. TU sou eu e é você. TU é a gente. Tu também é dois. Two. Eu e Gustavo, meu irmão e parceiro musical. Tu é para. É oferenda. A ideia do disco nasceu a partir de uma gira que fizemos voz e violão, formato que eu gosto de chamar de “nude”, porque é como se as músicas estivessem peladas. Tocar as músicas desse jeito nos aproximou da espinha dorsal de cada canção. E fiquei com vontade de gravá-las assim: um violão, uma voz e algumas poucas percussões.

Este é o conceito do disco. Sobretudo em um momento onde a tecnologia nos dispersa e a overdose de informação nos sobrecarrega, quis fazer um disco mais íntimo, mais próximo, mais cru. Em tempos de relações rasas, esse é um disco que me aproxima do ritual da fogueira. Do olho no olho. Dos meus amigos. Os antigos e os novos. Os da floresta e os da cidade. Tu sou eu, Gustavo e Stéphane San Juan. Gustavo no violão e na inventação das músicas junto comigo. Stephane nas percussões. Os dois na produção do disco. Scotty Hard foi o engenheiro de som.

A primeira intuição que tivemos para TU é que seria um disco de releituras, mas durante o processo músicas novas apareceram. Cinco novas e quatro releituras. Ao todo são nove e eu gostei desse número porque o 9 contém a experiência de todos os números anteriores. Tem a ver com o conceito do disco: incorporar em sua atmosfera e existência a experiência dos discos anteriores.

Das regravações, vieram a minha "Pedrinho" e "Desinibida", parceria com o músico português Tomás Cunha Ferreira, da banda Os Quais. Elas entraram para o disco porque trazem personagens livres e gente livre merece destaque. São praticamente a mesma pessoa. "Algo Maior" (minha, do Gustavo e do meu pai Luiz Chagas) e "Dois Cafés" (minha e do Gustavo) foram relidas porque que precisavam ser ditas de novo. Foram tocadas poucas vezes nos shows com banda e verbalizá-las me fortalece.

Das novas, fiz “Pólen”. “Game” e “Tu” são parcerias com Gustavo. “Terrorista del Amor” é a minha segunda experiência em uma composição coletiva (a primeira foi em Víbora). É uma parceria com Ava Rocha, Paola Alfamor, Gustavo Ruiz e Saulo Duarte.  “Pedra”, que fecha o disco, é uma música feita pelo meu pai, Luiz Chagas, no ano em que nasci e que nunca tinha sido gravada. Tenho dois convidados muito especiais no disco. Mauro Refosco, em “Algo Maior” e Adan Jodorowsky em “Terrorista del Amor”.

Gravamos as músicas no estúdio do Scotty, no Brooklyn, em duas semanas. Incrível o jeito que ele capta e o som. O violão do Gustavo ficou especial. Impressionante a sintonia que se deu entre a gente e a contribuição de cada um. Gustavo na arregimentação de tudo e na percepção da minha musicalidade. Stepháne, com seu olhar estrangeiro de francês radicado no Rio e no Mali, levou nossas músicas para novos lugares e, além de um ar cosmopolita, trouxe ancestralidade para a nossa fogueira.

Este é o nosso primeiro projeto 100% digital. E escolhemos como parceiros a ONErpm, que nos acolheu de braços abertos no Brasil e em Nova York colocando toda sua estrutura à nossa disposição. As parcerias foram fundamentais para que TU se materializasse.

Esse disco também é resultado de nossas andanças. Nos dois últimos anos tocamos muito pela América Latina, sobretudo México, e TU também vem da vontade de dialogar mais com que está ao nosso redor e parece distante pela barreira da língua.

Esse disco me aproxima de todos os meus cordões umbilicais.

Sobre os caras

Gustavo Ruiz é meu produtor musical. Juntos temos muitas conquistas, como um Grammy de Melhor Álbum de Pop Contemporâneo Brasileiro. Gustavo, além de me produzir, produziu discos de bandas que moram na minha vitrola. Junio Barreto, Trupe Chá de Boldo, Zé Pi, Juliana Kehl, Porcas Borboletas, Verônica Ferriani, Pedro Moraes, Plutão Já Foi Planeta e agora Maurício Pereira.

Gustavo conheceu Stéphane quando tocavam juntos na banda da Vanessa da Mata. Stepháne hoje vive entre Brasil e EUA e já tocou com importantes nomes, como a dupla africana Amadou e Mariam e a inglesa Jane Birkin. Ele nos apresentou Scotty Hard, reconhecido por seu trabalho com artistas de hip-hop e jazz, como Cypress Hill e Medeski Martin and Wood. No Brasil, Scotty gosta de trabalhar com a Nação Zumbi.

Stepháne é amigo do Mauro Refosco, percussionista brasileiro radicado em NY e ele um dia foi visitar a gente no estúdio. Já conhecíamos o seu trabalho com a banda Forró in The Dark e suas contribuições com David Byrne, Red Hot Chili Peppers e Tom York, além de muitos amigos em comum. Mostramos algumas músicas para ele e sua presença no disco acabou sendo inevitável. Ele fez o arranjo de percussões junto com o Stephane em “Algo Maior.

Adan Jodorowsky entrou para a história porque eu entendi durante as gravações que precisava de uma voz caminhando comigo em “Terrorista del Amor”. Adan é filho do diretor Alejandro Jodorowsky e tocamos em duas ocasiões que homenageavam seu pai, a Feira Internacional do Livro de Guadalajara e os Prêmios Fênix de Cinema. Adan, além de músico, também é diretor e ator.

 

TU (You in English) 
by Tulipa Ruiz

TU (You in English), with capital letter. In capslock to stress the spelling of the word and thus immerse into its meaning. TU It's me and it's you. TU is us. TU also is two. Me and Gustavo, my brother and musical partner. TU is for to. It is an offering. The idea of the album was born from a tour that we did voice and guitar, a format that I like to call "nude" because it is as if the songs were naked. Playing the songs this way brought us closer to the backbone of each song. And I wanted to record them like this: a guitar, a voice and a few percussions.

This is the concept of the disk. Above all at a time when technology disperses us and information overdose overwhelms us, I wanted to make a disk more intimate, closer, and rawer. In times of shallow relations, this is a record that brings me closer to the ritual of the bonfire. From the eye to the eye. From my friends. The old and the new. Those of the forest and those of the city. TU are me, Gustavo and Stéphane San Juan. Gustavo on the guitar and the invention of the songs with me. Stéphane on percussion. The two in the disk production. Scotty Hard was the sound engineer.

The first intuition we had for TU is that it would be a record of re-readings, but during the process new songs appeared. Five new and four re-readings. In total, there are nine and I liked that number because nine contains the experience of all previous numbers. It has to do with the concept of the disc: to incorporate in its atmosphere and existence the experience of the previous discs.

Of the re-recordings, came my "Pedrinho" and "Desinibida", partnership with the Portuguese musician Tomás Cunha Ferreira, from the band Os Quais. They entered into the disc because they bring free characters and free people deserve to be highlighted. They are practically the same person. "Algo Maior" (mine, from Gustavo and from my father Luiz Chagas) and "Dois Cafés" (mine and from Gustavo) were re-read because they needed to be said again. They were played a few times in band shows and verbalizing them strengthens me.

Of the new ones, I did "Pollen". "Game" and "Tu" are partnerships with Gustavo. "Terrorista del Amor" is my second experience in a collective composition (the first was in Víbora). It is a partnership with Ava Rocha, Paola Alfamor, Gustavo Ruiz and Saulo Duarte. "Pedra", which closes the record, is a song made by my father, Luiz Chagas, the year I was born and had never been recorded. I have two very special guests on the album. Mauro Refosco, in "Algo Maior" and Adan Jodorowsky in "Terrorista del Amor".

We recorded the songs at Scotty's studio in Brooklyn in two weeks. Amazing the way it captures and the sound. Gustavo's guitar was special. Impressive the tuning that took place between us and the contribution of each one. Gustavo in the regimentation of everything and in the perception of my musicality. Stéphane, with his foreign look of French based in Rio and Mali, took our music to new places and, in addition to a cosmopolitan air, brought ancestry to our campfire.

This is our first 100% digital project. And we chose as partners ONErpm, who welcomed us with open arms in Brazil and in New York putting all its structure at our disposal. Partnerships were fundamental for TU to materialize.

This album is also the result of our wanderings. In the last two years we have played a lot in Latin America, especially Mexico, and TU also comes from the will to dialogue more with what is around us and seems distant by the language barrier.

This disk brings me closer to all my umbilical cords.

About the guys

Gustavo Ruiz is my music producer. Together we have many achievements, such as a Grammy for Best Contemporary Brazilian Pop Album. Gustavo, in addition to producing me, produced records of bands that live on my record player. Junio Barreto, Trupe Chá de Boldo, Zé Pi, Juliana Kehl, Porcas Borboletas, Verônica Ferriani, Pedro Moraes, Plutão Já Foi Planeta and now Maurício Pereira.

Gustavo met Stéphane when they played together in Vanessa da Mata's band. Stepháne now lives between Brazil and the US and has played with important names such as the African duo Amadou and Mariam and the English Jane Birkin. He introduced us to Scotty Hard, renowned for his work with hip-hop and jazz artists such as Cypress Hill and Medeski Martin and Wood. In Brazil, Scotty likes to work with the Nação Zumbi.

Stephane is a friend of Mauro Refosco, Brazilian percussionist based in NY and he one day went to visit us in the studio. We already knew his work with the Forró in The Dark band and its contributions with David Byrne, Red Hot Chili Peppers and Tom York, besides many friends in common. We showed him some songs and his presence on the album turned out to be inevitable. He made the percussion arrangement along with Stéphane in “Algo Maior”.

Adan Jodorowsky entered the story because I understood during the recordings that I needed a voice walking with me in “Terrorista del Amor”. Adan is the son of director Alejandro Jodorowsky and we played on two occasions honoring his father, the Guadalajara International Book Fair and the Phoenix Film Awards. Adan, besides a musician, is also a director and actor.